O diesel aumenta o risco e a mortalidade por câncer de pulmão

27/05/2012 13:11

Motores a diesel são a força motriz da indústria moderna, mas sua utilidade parece vir com o preço do aumento do risco de câncer de pulmão e de mortes por câncer, de acordo com dois estudos publicados online em 5 de março no Journal of the National Cancer Institute.

Os dois estudos utilizaram a mesma coorte de 12315 trabalhadores de instalações de mineração não metálica, mas observaram os dados de dois ângulos epidemiológicos diferentes.

No estudo de caso controle, os mineradores com maior exposição a carbono elementar respirável, um substituto para partículas de diesel, tiveram um risco para câncer de pulmão 3 vezes maior que os mineradores com a menos exposição, relata Debra T. Silverman, ScD, e seus colegas da divisão de epidemiologia e genética do câncer no National Cancer Institute em Bethesda, Maryland.

“O risco para não tabagistas foi 7 vezes maior no estudo”, disse a Dra. Silverman em uma entrevista para o Medscape Medical News.

No estudo da mortalidade, o risco de morte por câncer de pulmão ou esôfago e pneumoconiose foi maior nos mineiros que na população em geral, de acordo com Patricia L. Schleiff, MS, da divisão de estudos de doenças respiratórias no National Institute for Occupational Safety and Health em Morgantown, West Virginia, e seus colegas.

Estudo de caso controle aninhado

No estudo de caso controle aninhado, a Dra. Silverman e seus colegas compararam 198 mineradores que morreram de câncer de pulmão, com 562 controles da mesma coorte, pareados por instalação de mineração, sexo, raça/etnia e idade, dentro de 5 anos.

Usando dados de avaliação da exposição de cada instalação mineradora, eles estimaram a exposição a carbono elementar respirável pelo tipo de trabalho e anos de exposição. Eles conduziram entrevistas por telefone com os mineradores ou parentes dos que haviam falecido para determinar características demográficas, hábito de tabagismo, história ocupacional, história médica e familiar, e dieta.

Uma tendência significativa no risco de câncer foram encontradas associada com o aumento do tempo e da intensidade da exposição ao diesel nas análises não defasada e defasada (para excluir exposições recentes).

O risco de câncer aumentou significativamente com a exposição ao carbono elementar cumulativa na análise defasada (P para tendência = 0,001). Os mineiros com os maiores níveis de exposição – acima da mediana do quartil superior para exposição (no mínimo 1005 µg/m3 de ar por ano) – tiveram um risco 3 vezes maior do que aqueles com os menores níveis de exposição (odds ratio [OR], 3,20; intervalo de confiança [IC] 95%, 1,33-7,69).

Na análise defasada, os mineradores não tabagistas com a menor exposição ao carbono elementar respirável (menos de 8 µg/m3 por ano) não apresentaram aumento do risco para câncer de pulmão (OR, 1,00), comparado com aqueles expostos a 8 a 304 µg/m3 por ano (OR 1,47, IC 95%: 0,29-7,50) e aqueles expostos a no mínimo 304 µg/m3 por ano (OR 7,30; IC 95%: 1,46-36,57).

“Nós também observamos uma interação entre o tabagismo e o carbono elementar respirável acumulado em 15 anos (P para interação = 0,086), significando que o efeito de cada uma dessas exposições foi atenuada pela presença de altos níveis da outra”, escrevem os investigadores.

Estudo da mortalidade

No estudo da mortalidade, os autores calcularam as taxas de risco de mortalidade padronizadas para os mineiros nas análises defasadas ou não.

Eles descobriram que as taxas de mortalidade para os mineiros foram maiores para o câncer de pulmão (1,25; IC 95%: 1,09-1,44), câncer de esôfago (1,83; IC 95%: 1,16-2,75), e pneumoconiose (12,20; IC 95%: 6,82-20,12) que as taxas de mortalidade basais.

Em contraste, não houve diferenças entre os mineradores e a população em geral nas taxas de mortalidade por todas as causas, ou de taxas de câncer de bexiga, doença cardíaca, ou doença pulmonar obstrutiva crônica.

Na análise controlada pelo local de trabalho – acima ou abaixo do solo – as taxas de risco para morte por câncer de pulmão aumentaram significativamente com o nível de exposição ao diesel. Para mineiros que trabalharam pelo menos 5 anos abaixo do solo, aqueles expostos a pelo menos 640 e 1280 µg/m3 de carbono elementar por ano, comparados aqueles expostos a menos de 20 µg/m3 por ano, tiveram uma taxa de risco para mortalidade por câncer de pulmão de 5,01 (IC 95%: 1,97-12,76).

Mineiros que trabalham sob o solo com maiores níveis de exposição ao diesel também tiveram um risco elevado de câncer de pulmão.

O risco para câncer de pulmão associado a exposição a vapores de diesel permaneceu, mesmo após controlas para outras ameaças ambientais ocupacionais, como sílica, asbesto, hidrocarbonos poliaromáticos que não o diesel, e poeira respirável.

Redução da exposição ao diesel

“Esses resultados indicam que normas rigorosas ocupacionais e particularmente ambientais para vapores de motores a diesel devem ser estabelecidas e seu cumprimento garantido para que haja um impacto na saúde”, escreve Lesley Rushton, PhD, do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística do Imperial College London, Reino Unido, em um editorial que acompanhou o estudo.

Para reduzir a exposição ao diesel, ela recomenda melhorar a ventilação, realizar a manutenção dos veículos, limitar o uso de motores a diesel em espaços fechados, desligá-los quando não estiverem em uso, e “como último recurso, usar equipamentos de proteção respiratória apropriados”.

Ela observa que o menor quartil para níveis de exposição no estudo da caso controle foi semelhante aqueles vistos em alguns ambientes urbanos, como na Rua Oxford em Londres, Reino Unido, onde carros privados são proibidos, mas ônibus e taxis (muitos dos quais movidos a diesel) tem circulação livre.

“A redução no ambiente em geral é um desafio maior, embora medidas de controle ocupacional também seja relevantes. No entanto, a necessidade dessa redução está se tornando mais aparente, e é essencial para que a saúde de um grande número de pessoas não seja comprometida”, concluiu.

Os estudos foram financiados pelo programa de pesquisas do National Cancer Institute no National Institutes of Health; da Division of Cancer Epidemiology and Genetics, National Cancer Institute; e da Division of Respiratory Disease Studies, National Institute for Occupational Safety and Health. Os autores são atualmente empregados de várias agências, como detalhado nos artigos. A Dra. Rushton não declarou relações financeiras relevantes.

 

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